Parecia um inverno comum para Allison e
Hanna. Elas foram passar as férias de Dezembro em Denver, como faziam todo ano.
Já tinham uma casa lá: era uma enorme mansão, rodeada de árvores de todos os
portes, a fachada era muito grande e refinada, porém judiada pelo tempo. A
porta era de uma madeira seca e corroída pelas enchentes assim como toda a
casa. A casa era dos Croasshoad, os pais de Hanna. Ela, sua mãe e Allison
sempre iam lá nas férias, mas como sua mãe fora viajar, elas foram sozinhas.
Por um motivo que elas desconheciam, Tasha,
a mãe de Hanna, só ficava lá com elas até o dia 26 de dezembro, tinha pavor de
pensar em ficar mais um dia sequer, nunca falava o motivo, mas Hanna
desconfiava de que era porque seu pai morrera no dia 27 de Dezembro, naquela
mesma casa.
Tinham acabado de chegar na casa, ainda era
dia, elas entraram e guardaram suas malas. Fazia um dia frio. As nuvens foram
cobrindo o sol lentamente, e assim fazia o dia cada vez mais sombrio. Allison e
Hanna não ficaram com medo, pois havia 13 anos que elas passavam as férias lá,
desde seus cinco anos.
Allison estava sentada em frente à lareira,
o fogo derretia os pequenos flocos de neve que ainda estavam em seus longos
cacheados e ruivos cabelos, e a chama refletia nos seus olhos claros como o
mar. Enquanto isso, Hanna preparava um chocolate-quente para as duas se
aquecerem um pouco mais. Ela acendeu o fogo, mas, imediatamente o ele se apagou
com o vento gelado que saía das frestas da janela. Instantaneamente a garota,
com as mãos trêmulas, reacendeu o fogo, mas dessa vez foi mais ágil e logo
colocou a panela no fogão. Em sua visão periférica, viu um vulto escuro e
assustador passar pela janela. Instintivamente correu para junto de sua amiga,
chamando-a:
- Ally! –disse ela ofegante– Parece que vi
algo na janela da cozinha, era você?
- Não era não! Deve ser impressão sua.
- Mas eu tenho certeza que vi algo!!
- Ai, Hanna, se for mais uma dessas
tentativas suas de me assustar, pode ir parando! Estou ficando com medo!
- Mas é verdade! Estou com medo também...
Antes de Ally responder, elas ouviram um
ruído esquisito vindo da cozinha:
- O que foi isso?
- Acabei de me lembrar, deixei o fogo
ligado na cozinha!
- Ah, então deve ser isso, vou lá com você
até a cozinha – disse Allison ainda indecisa.
As duas de mãos dadas desceram as escadas
com cautela. Foram na direção da cozinha. Ally e Hanna olharam no vão da porta.
Não havia nada. O fogo já se apagara. E o gás também.
- Mas o vento não desligaria o gás!
- Não mesmo. – diz uma voz grossa e desconhecida
As duas empalideceram, queriam gritar, mas
suas vozes não saíram.
- Ora, ora seria muita falta de
educação deixar o gás vazando assim – disse a voz cinicamente – não é verdade, Max?
Uma voz saiu de trás das garotas disse:
- É mesmo!
As garotas deram um pulo, agora se
encontravam encurraladas. O que fazer agora? Elas não sabiam. Ficaram
completamente imóveis.
-O que querem conosco? – Disse Ally
-Calada.
Elas corriam perigo. Então, sem tempo para
reagir, os homens amarraram-nas e levaram-nas dali. Agora as duas se
encontravam num carro que corria em alta velocidade. Elas tentavam gritar por
ajuda, mas suas bocas foram tampadas, e seus olhos também. Não faziam a mínima
ideia de onde estavam indo.
O carro estava diminuindo a velocidade, e
elas agora ouviam risadas de crianças e gritos, que, no entanto, não pareciam
de medo, mas sim de emoção. Deduziram que era um parque de diversões, e se
perguntaram por que estariam levando-as para um parque?
O barulho foi se afastando. Os homens as
tiraram do carro e as levaram para uma pequena sala, onde suas bocas e seus
olhos foram destampados. A sala era apertada, suja e com um aspecto frio.
Os sequestradores as deixaram sozinhas,
porém amarradas. Agora podiam conversar.
- Ai meu Deus, Hanna! O que agente faz
agora?
- Eu não sei, precisamos manter a calma.
- E se a gente tentar fugir daqui?!
- Eu acho que não adiantaria, estamos
trancadas e amarradas. Mas de uma coisa eu sei, temos de ficar juntas.
Allison concordou, fazendo um gesto com a
cabeça. Tentando se acalmar e se conformar do que estava acontecendo. Elas
ouviram um ruído vindo de fora, e resolveram se calar para poder ouvir.
- Você é inútil, você sequestrou as garotas
erradas! Mas não podemos soltá-las aqui.
- Dou um jeito nelas.
As duas ouvindo isso se apavoraram, mas
ficaram quietas para ouvir o resto da conversa.
- Então leva uma delas para bem longe
daqui. A outra você solta aqui mesmo.
- Pode deixar, vou levar uma delas para o
outro parque em Pueblo. Não é muito longe daqui.
Allison e Hanna se desesperam com a
conversa, mas permaneceram caladas. Então a porta de escancarou. Um dos homens
entrou lá e pegou somente Hanna. Allison começou a gritar por sua amiga.
-Para onde você esta levando ela???
- Não te interessa.
Allison não desistiu, e começou a se debater,
mas em vão. Hanna já partira e depois de alguns minutos trancada e amarrada,
outro homem apareceu e disse:
- Sua amiguinha já deve estar longe. Você
pode ir agora, mas fique calada estaremos monitorando você o tempo todo.
- O
que vocês fizeram com ela?
- Não se preocupe, você não vai mais vê-la.
Então o homem a desamarrou e ela correu freneticamente.
Precisava pensar no que fazer pensar rápido. Cada segundo Hanna estaria mais
longe, ela não podia perder tempo, e tinha uma pista de onde Hanna estaria em
Pueblo. Ela não fazia a menor ideia de onde seria, então ela percebeu que esta
em frente a um Parque de Diversões e viu uma pequena banca de jornal ao lado.
Resolveu pedir ajuda.
-Meu senhor - disse ela ainda ofegante – me
ajude, onde estamos?
- Aqui é Trinidad.
- E o senhor sabe onde fica Pueblo?
- Não sei muito bem, mas aqui está um mapa.
- Muito obrigada!
E os dois se despediram. Ela estava com
muita fome e sede, pois fazia tempo que não comia e bebia. Observou bem, e viu
em frente ao Parque um bebedouro e resolveu encher uma garrafinha que estava ali
do lado jogada no chão. Morta sua sede, resolveu sentar-se num banco em frente
ao parque.
Ela observava o mapa. Tinha ainda muito
chão pela frente, mas logo começaria a escurecer, então resolveu se deitar e
tirar um cochilo ali mesmo, naquele banco, no outro dia, bem de manhã, ela
partiria. Ajeitou-se e logo adormeceu.
Acordou com o sol batendo em seu rosto. E
já resolveu partir, tomando como ponto de referência o sol, e tomou rumo para o
Norte. Depois de uma longa caminhada, em uma pequena trilha no meio da mata,
sofrendo frio e fome, ela achou uma macieira, e resolve parar um pouco para se
alimentar.
Debaixo da árvore, uma leve sombra, a
confortou e ela resolveu descansar um pouco, e pegou no sono.
Acordou assustada. Quanto tempo dormira?
Será que tinha perdido muito tempo de sua viagem? Levantou num pulo, e logo
continuou a caminhada, pensando em Hanna, e como estaria agora.
Foi essa saudade que fez Allison ficar mais
determinada. Ela voltou a olhar no mapa, havia uma rodovia não muito longe, que
levava direto para Pueblo.
Ainda nevava, mas não muito. Porém ela vira
alguns dias antes, pela televisão, que uma nevasca muito grande estaria por
vir. Então deveria acelerar
Chegando na rodovia movimentada, Allison
resolveu ir na direção em que havia uma placa, estava a 70 km de Pueblo.
Naquele momento sentiu um aperto enorme no coração. Cada segundo, a cada minuto
que ela estava ali, Hanna estava mais longe, cada vez mais longe. Ally tentou
pensar sensatamente, tinha que descansar. O tempo parecia se passar mais rápido
do que nunca. Então decidiu que iria arranjar um lugar para passar a noite.
Então, no outro dia, logo de manhãzinha partiria.
Estava com fome, sede e sono. Nunca esteve
tão ruim como naquele dia. Mas a vontade de rever sua amiga, ainda viva, era
mais forte do que ela. Voltou a sombra da macieira e dormiu. Acordou no outro
dia, o sol mal nascera ela já começou a andar. Correr, na verdade. Mas na
estrada dessa vez, pois assim ela poderia ter uma referencia de onde ir.
Seguiu em direção a Pueblo. Nevava
bastante. Já não via o sol, não tinha a menor noção de dia ou noite, apenas
quando não aguentava mais caminhar achava uma sombra e cochilava. Ela andara no
que julgava uns três dias, 20 quilômetros. Orientava-se pelas placas. Depois de
longos e duros dias, nessa mesma situação, ela vê uma placa dizendo:
Bem-vindo a Pueblo.
Allison comemorou e resolveu seguir em
frente para ver se acha o tal parque. Nevava um pouco, não tanto como os outros
dias. Ela achou uma banca e resolveu pedir informação.
- Tem algum parque por aqui?
- Sim, é logo ali – então o homem começou a
explicar onde ficava o parque, não era muito longe dali.
- Muito obrigada!
Ainda restavam algumas maças que ela
colhera há um tempo. Então continuou andando rumo ao parque, seguindo o que o
homem lhe dissera e algumas placas. Até que avistou o parque. O lugar onde
supostamente Hanna estaria seria no porão daquele parque.
Ally entrou no parque e foi seguindo as
placas até encontrar uma dizendo: "Porão – somente pessoal autorizado".
Era lá, ela sabia que não poderia entrar com todas as pessoas olhando e resolve
esperar o anoitecer.
O parque já estava fechando, e ela se
escondeu para que pudesse ficar lá dentro. Os portões se fecharam, e Ally
seguiu em frente em busca de sua amiga.
Abriu as portas e desceu as escadas, achou
uma porta preta e com a tinta descascando, empurrou as portas e entrou.
A sala era pequena como a que tinha ficado
com Hanna, mas tinha uma coisa estranha, não via ninguém. Começou a observar
melhor. Parecia abandonado. Como se ninguém entrasse lá há muito tempo. Porém
tinha uma coisa diferente: havia uma porta escondida e ouviam-se muitos
barulhos vindos de lá.
Ally, mesmo com medo, resolveu abrir essa
porta. Viu então sua amiga muito ferida,
quase morrendo. Ela fora baleada. Ally correu em direção dela. Ajoelhou ao lado
de Hanna e começou a chorar incontrolavelmente:
- Hanna, vamos sair daqui, vai ficar tudo
bem...
- Não, Ally, você tem que ir embora
enquanto tem tempo- responde rapidamente Hanna, muito baixinho e quase sem
forças para falar- Eles já devem estar voltando, me deixe e se salve!
- Mas... Não... Não posso deixar você aqui,
assim... NÃO!
- Ally, você já fez muito por mim. Agora
vá! Por mim...
Ela realmente não sabia o que fazer. Ainda
estava em choque, mas tinha que fazer algo, e rápido. Então deu um último
abraço na amiga e se despediu. Correu para a outra sala e estava quase abrindo
a porta que dava acesso ao parque quando ouviu vozes. Eram os bandidos. Agora não
podia fazer mais nada. Simplesmente paralisou. Não tinha a menor reação. Era
como se ela ouvisse a morte se aproximar dela. Tentou se conformar. Eles iriam matá-la.
Tinha certeza disso. Eles se aproximaram dela, tinham uma arma em punho. Mas
Allison disse:
- Por favor, não me matem!!! Minha amiga já
se foi, me deixem, por favor, eu juro que não conto pra ninguém sobre vocês, e
nada do que aconteceu.
- Calada. Dissemos pra você que não era
para vir atrás dela, e você fez o contrário. Mexeu com quem não deveria.
Então ele apontou a arma para Ally e diz:
- Não queria fazer isso, mas não tenho
escolha. Suas últimas palavras?
Antes que pudesse abrir a boca ou fazer
alguma coisa, o ladrão atira. E ela cai morta.
Ninguém nunca soube o que realmente
aconteceu naquela noite, aqueles ladrões eram realmente profissionais, ninguém
nunca desconfiou que foram morta ou sequestradas. Para todos elas se mataram. E
por coincidência ou não, foi no mesmo dia em que seu pai morrera e aquele dia
ficou amaldiçoado para toda a família, especialmente Tasha.